É uma vergonha quando aqueles que deveriam representar nossas idéias se mostram alheios aos problemas sociais. Recebi um SPAM em minha caixa postal, do Senador Almeida Lima (PMDB-SE). (Haja visto que não é primeira vez que ele se utiliza dessa prática para atinger seus possíveis eleitores. Confira!). Como seu artigo citava seu amor ao debate e à argumentação, resolvi tentar uma troca de idéias. Diante de sua última resposta, que mostra total despreparação para um cargo tão sério, resolvi tornar público o breve debate.
O ARTIGO DELE
Abortar é crime "A minha visão se prende à compreensão de que a vida está presente a partir da concepção uterina e que a ninguém é dado o direito à liberdade de matar vidas humanas".
Pena de morte, parlamentarismo versus presidencialismo, maioridade aos dezesseis anos, aborto e tantos outros, são temas considerados recorrentes: ressurgem sempre à baila após um período desaparecidos das rodas de discussões mais candentes. O aborto é um dos assuntos do momento. Está na pauta do governo, da igreja e se ampliará por toda a sociedade. Como cidadão e, sobretudo como parlamentar, tenho a minha posição tornada pública que é contrária à prática do aborto além das permissões estabelecidas na legislação pátria. Com isto não quer dizer que não esteja aberto a ouvir ponderações ou veja o tema como indiscutível. Ao contrário, a sociedade tem o direito de discuti-lo com toda a liberdade, não podendo haver patrulhas para estabelecer o cerceamento a esta discussão. Elas devem ser repelidas ou não consideradas.
Esclareço que esta minha posição contrária à prática do aborto não se deve a um alinhamento automático às posições assumidas pela Igreja Católica Apostólica Romana. Neste ponto há, apenas, uma coincidência de visão acerca do tema, até porque me posiciono contrário às suas teses acerca dos contraceptivos e a tantas outras bandeiras que a Igreja mantém como dogmas e que nada tem a ver com os ensinamentos de Cristo.
A minha visão se prende à compreensão de que a vida está presente a partir da concepção uterina e que a ninguém é dado o direito à liberdade de matar vidas humanas. Não se trata, neste caso, de uma liberdade individual como defendem muitos, sob a alegação de que estarão dispondo do seu próprio corpo, quando, na verdade, trata-se da vida de um terceiro, um nascituro, ou seja, aquele que está para nascer. Ora, se a consciência Cristã impede que o indivíduo disponha do seu próprio corpo mutilando-se ou cometendo o suicídio, jamais poderia compreender e aceitar atentar contra a vida de outro.
Apenas para argumentar por amor ao debate, suponha-se poder abstrair da discussão as razões de consciência religiosa, e que o tema seja tratado, apenas, dentro de uma visão racional e científica, o que se pode afirmar? - Na minha visão, que se trata de uma enorme irresponsabilidade de todos quantos estão diante de incontáveis processos contraceptivos hoje existentes e ao alcance de todos, embora prefiram não tomar a iniciativa de evitar a gravidez e se submeter à prática do aborto.
Portanto, antes de ser uma questão de saúde pública como o governo está pregando, passa primeiro por um fator de consciência espiritual e de comportamento social. Ao governo compete todos os gastos com publicidade e outros métodos educacionais para evitar o problema de saúde pública a que ele se refere. Fazer opção pela prática do aborto é pretender minimizar um ato de irresponsabilidade com o cometimento de um crime. Acatar a tese do governo é embarcar com ele na confissão de fracasso enquanto dirigente do Estado que tem a dever de prover a sociedade das condições dignas e efetivas para a formação de uma consciência coletiva arejada e jamais perniciosa.
A MINHA RESPOSTA
é fácil demais para um homem se posicionar diante de um problema que nunca será dele!!!!
não entendi muito bem porque esse texto foi cair na minha caixa postal... mas, já que caiu e já que também eu tenho muito amor ao debate e à argumentação, vamos lá!!
A minha posição é baseada no idéia de que "quando um crime leva uma parcela tão expressiva da população à cadeia, tal lei deve ser repensada"
Você diz "Ora, se a consciência Cristã impede que o indivíduo disponha do seu próprio corpo mutilando-se ou cometendo o suicídio, jamais poderia compreender e aceitar atentar contra a vida de outro.". Você menciona aqui a consciência cristã.. e eu lhe pergunto porque a consciência religiosa deve nortear alguém dentro de um estado laico??? Ou seja, se nosso governo separa o estado da religião, que diferença faz o que orienta a consciência cristã??
É importante deixar claro que ser a favor ou contra o aborto em si não é a questão do debate!!! NENHUMA mulher é a favor DO aborto. Obviamente, o aborto é traumático e não seria a primeira escolha espontânea de ninguém, porém, há que ser considerado como alternativa para evitar maiores problemas futuros, inclusive relacionados a própria VIDA!
Me assusto quando vejo você dizer que "Na minha visão, se trata de uma enorme irresponsabilidade de todos quantos estão diante de incontáveis processos contraceptivos hoje existentes e ao alcance de todos, embora prefiram não tomar a iniciativa de evitar a gravidez e se submeter à prática do aborto.". Me assusto porque essa é uma justificativa que ouvimos comumente na classe média, porém, é de admirar que um parlamentar esteja tão alheio aos problemas sociais brasileiros ao ponto de não conseguir enxergar nada além da sua realidade!!! Que país é esse onde "todos estão diante de incontáveis processos contraceptivos hoje existentes e ao alcance de todos"??? Para que tal frase fosse verdade haveria que se considerar uma educação exemplar em nosso sistema, que possibilitasse o acesso total e irrestrito à informação. Só assim todos poderiam guiar suas vidas livrementes e usufruir das escolhas disponíveis.. mas não é bem assim que acontece!!!
O fato é que o aborto hoje - além de ser, sim, um problema de saúde pública - é também um sério problema social! É questão de saúde pública por ser a quarta causa de mortalidade materna, e é problema social porque, dentre essas mortes, a maioria esmagadora é de negras, pobres e jovens, ou seja, existe um apartheid em torno do aborto! As mulheres brancas, de classe média e alta, quando precisam, o fazem com toda segurança, em clínicas especializadas. Já as de classes mais baixas são obrigadas a enfrentar métodos alternativos que muitas vezes levam a morte!
Como o senhor, enquanto parlamentar, pode sugerir, que "antes de ser uma questão de saúde pública como o governo está pregando, (o aborto) passe primeiro por um fator de consciência espiritual e de comportamento social"??? Aqui voltamos à questão do estado ser laico, portanto, para que citar a consciência espiritual?? Tal consciência só é importante para cada indvíduo, e assim é garantido por lei o direito à religião. O direito à livre escolha da religião - é importante firmar -, portanto, o também direito a não religião.. e portanto, desnecessária a citação à consciência espiritual nesse debate! Quanto ao comportamento social, só consigo entender aqui um julgamento moral, o que também não caberia à ação de um parlamentar.
Na minha visão, alguém que fala em "Fazer opção pela prática do aborto" é alguém que mostra estar completamente por fora da realidade da questão. Não se trata aqui de uma opção do governo pelo aborto ou pela educação. Ao governo cabe fornecer, sim, muita informação para evitar o aborto. Porém, cabe também propiciar subsídios para que mulheres não continuem morrendo em decorrência de suas escolhas..
Enquanto parlamentar, sugiro que você analise a questão pela seguinte ótica: Anualmente ocorrem cerca de 1 milhão de abortos clandestinos no Brasil, o que acarreta em uma média de 250 mil internações na rede pública de saúde. Você é realmente a favor da PRISÃO desses 2 milhões de pessoas??? (2 milhões pois trata-se de 1 milhão de mulheres que abortaram, e mais um milhão - entre médicos ou não - de pessoas que ajudaram-nas)
Eu não sou parlamentar, mas minha opinião sobre leis é bem simples. Primeiro, penso que um país avança quando expande suas liberdades de direitos e não quando aumenta suas proibições morais. Segundo, penso que quando um crime leva uma parcela tão expressiva da população à cadeia, tal lei deve ser repensada!!A ÚLTIMA RESPOSTA DELE(apelativa ao emocional e despreparada, na minha opinião)
Minha cara Marcela,
Como resposta eu encaminho as minhas homenagens à sua querida genitora por não ter
se posicionado a favor do aborto, ou não ter tido necessidade de praticá-lo.
Fraternalmente
Senador Almeida Lima
Quem se interessar em participar da discussão, meu e-mail é marcelamattos@gmail.com e o do senador em questão: jal@senador.gov.br
