Thursday, April 19, 2007

aborto


Ontem eu participei do programa da Ana Maria Brega... só que eu fui lá pra debater sobre aborto e a discussão que acabou rolando foi sobre célula tronco.. :s

então.. vou escrever aqui mesmo o que penso.. claro que não vai ter o mesmo alcance da Rede Bobo, mas eu conto com vcs pra ajudar na divulgação dos argumentos, ok???

Atualmente, são realizados uma média de 1 milhão de abortos clandestinos no Brasil, que acarretam cerca de 250 mil internações na rede pública de saúde. Esses são os números atuais, imaginemos então quantos abortos eram feitos antigamente, quando não existia pílula nem camisinha e mesmo assim algumas mulheres conseguiam manter-se com poucos filhos... É comum encontrar mulheres de 70 anos hoje que já realizaram 20 ou 30 abortos ao longo de sua vida...

Porém, devido a questões morais e religiosas, o aborto é considerado "errado" pela maioria das pessoas.. No final dos anos 80, a maioria da população não era a favor do aborto nem mesmo em casos de estupro ou riscos de vida. Mas a lei entrou em vigor mesmo assim, tornando legal o aborto nesses casos pré-determinados. Hoje as pesquisas mostram que 65% das pessoas são favoráveis a manter a lei como está. Isso mostra que após quase 30 anos, as pessoas assimilaram a necessidade do aborto nesses casos, mudaram seus conceitos, amadureceram o assunto. Talvez com isso a gente possa chegar à conclusão que, legalizando o aborto hoje, daqui a 30 anos a população entenderá que esse foi um avanço necessário..

Mas a questão maior aqui é que, quando falamos em mudar uma lei, não podemos levar em consideração argumentos puramente religiosos. Primeiro porque nosso Estado é laico (não parece, mas é!). Portanto, a religião é uma escolha estritamente pessoal, garantida pela constituição. Então, nada mais óbvio que ninguém receba uma punição legal (no caso, 1 a 3 anos de prisão) por um ato que não vai contra seus próprios princípios. Esse pra mim é o ponto principal que depõe contra a realização de um plebiscito para essa questão, porque é óbvio que as pessoas vão responder de acordo com sua religião, e não do ponto de vista legal.. E, sendo um país de maioria católica.. já viu, né?

Mas a questão do plebiscito deve ser debatida a fundo, pois uma coisa é perguntar a população se são contra ou a favor do aborto, e outra é perguntar se são contra ou a favor da prisão de mulheres e médicos que realizarem o aborto.. A formulação da pergunta nesse caso, sem dúvida manipula bastante as respostas, porque, afinal, convenhamos, totalmente a favor do aborto acho que ninguém é!! Que mulher vai escolher passar por uma situação traumática como essa por livre e espontânea vontade??? Lógico que não é esse o objetivo, mas o que não se pode é negar essa escolha, que evitaria tantos problemas sociais e pessoais, causados por filhos não desejados.

O quadro que temos hoje sobre o aborto no Brasil coloca a questão claramente como um problema social, de divisão de classes, afinal, qualquer mulher branca, de classe média e alta, tem acesso a uma clínica especializada, para fazer um aborto sem correr maiores riscos. Já a negra, a jovem, a pobre, quando tem em seu ventre um filho indesejado, acaba apelando para métodos arriscados, onde muitas vezes a conseqüência é a morte!

Isso é um pouquinho do que penso.. que gostaria de ter conseguido expor ontem no programa.. Mas o debate ainda vai rolar.. E até lá, nós, feministas, temos essa árdua tarefa de tentar levar argumentos reais a todos que conhecemos. Porque só assim será possível que nossa sociedade dê esse grande passo tão esperado...