Monday, October 23, 2006

leitura importante para eleitores e jornalistas

No meio dessa guerra eleitoral a que estamos assistindo, onde a mídia toma clara posição - mas não assume -, é realmente importante ler essa matéria.. publicada numa revista que ainda preserva o jornalismo de verdade, investigativo, informativo e opinativo, sim, mas assumido!!!!

quem ainda não leu a matéria do dossiê, vale a pena ler até o final.. e entender que pra tomar posições nesse período é necessário ir bem mais além da chamada grande mídia.. é preciso entender o processo e analisar com muita cautela, antes de acreditar em qualquer coisa que dizem os que se acham os donos da verdade...

a partir do momento que a corrupção é coeficiente comum na política, infelizmente, escolher o candidato deve partir da análise de ações e idéias..

portanto, digo sem medo que, na minha opinião, quem ainda vota no alckmim porque acha que ele - ou o PSDB - é limpo, é, no mínimo burro ou muito ingênuo.. quem vota porque concorda com as idéias que ele defende - facistas na minha opinião - aí é outra história..
(quem quiser discutir.. adoro!!)

boa leitura!

ps: Pra quem se interessa.. a Carta Capital continua investigando e publicando notícias sobre esse fato.. Notícias que deveriam estar estampadas nas primeiras páginas de todos os jorais da grande mídia - aquela que se diz a imprensa de verdade - mas infelizmente não estão.. portanto, é importante ler as novas matérias que a revista vem publicando...


fonte: Carta Capital

OS FATOS OCULTOS
A mídia, em especial a Globo, omitiu informações cruciais na divulgação do dossiê e contribuiu para levar a disputa ao 2º turno. Confira a íntegra da reportagem

Por Raimundo Rodrigues Pereira

1. Pode-se começar a contar a história do famoso dossiê que os petistas teriam tentado comprar para incriminar os candidatos do PSDB José Serra e Geraldo Alckmin pela sexta-feira 15 de setembro, diante do prédio da Polícia Federal, em São Paulo. É uma construção pesada, com cerca de dez pavimentos, de cor cinza-escuro e como que decorada com uma espécie de coluna falsa, um revestimento de ladrilho azul brilhante, que vai do pé ao alto do edifício, à direita da grande porta de entrada. Dentro do prédio estão presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos, ligados ao Partido dos Trabalhadores e com os quais foi encontrado cerca de 1,7 milhão de reais, em notas de real e dólar, para comprar o tal dossiê. Mas essa notícia é ainda praticamente desconhecida do grande público.

É por volta das 5 da tarde. A essa altura, mais ou menos à frente do prédio, que fica na rua Hugo Dantola, perto da Ponte do Piqueri, na Marginal do rio Tietê, na altura da Lapa de Baixo, estaciona uma perua da Rede Globo. Ela pára entre duas outras equipes de tevê: uma da propaganda eleitoral de Geraldo Alckmin e outra da de José Serra.

Com o tempo vão chegando jornalistas de outras empresas: da CBN, da Folha, da TV Bandeirantes. E a presença das equipes de Serra e Alckmin provoca comentários. Que a Rede Globo fosse a primeira a chegar, tudo bem: ela tem uma enorme estrutura com esse objetivo. Mas como o pessoal do marketing político chegou antes? Cada uma das duas equipes tem meia dúzia de pessoas. A de Serra é chefiada por um homem e a de Alckmin, por uma mulher. As duas pertencem à GW, produtora de marketing político. Seus donos foram jornalistas: o G é de Luiz Gonzales, ex-TV Globo, e o W vem de Woile Guimarães, secretário de redação da famosa revista Realidade, do fim dos anos 1960. Entre os jornalistas, logo se sabe que foi Gonzales quem ligou para a Globo, avisando do que se passava na PF.

E quem avisou Gonzales? Foi alguém da Polícia Federal? Foi alguém do Ministério Público, de Cuiabá, de onde veio o pedido para a ação da PF? Uma fonte no Ministério da Justiça disse a CartaCapital que as equipes da GW chegaram à PF antes dos presos, que foram detidos no Hotel Ibis Congonhas por volta da 6 da manhã do dia 15 e demoraram a chegar à sede da polícia. Gente da equipe da GW diz que a empresa soube da história através de Cláudio Humberto, o ex-secretário de imprensa do ex-presidente Collor, que tem uma coluna de fofocas e escândalos na internet e que teria sido o primeiro a anunciar a prisão dos petistas.

Pode ser que sim, o que apenas leva à pergunta mais para a frente: quem avisou Cláudio Humberto? Mesmo sem ter a resposta, continuemos a pesquisar nessa mesma direção: a de procurar saber a quem interessava a divulgação da história do dossiê e como essa divulgação foi feita. Para isso, voltemos à região do prédio da PF duas semanas depois.

2. É 29 de setembro, vésperas da eleição presidencial, por volta das 10h30 da manhã. Sai do prédio da PF na Lapa de Baixo o delegado Edmilson Pereira Bruno, 43 anos, que estava de plantão no dia 15 e foi o autor da prisão de Valdebran e Gedimar. Ele convida quatro jornalistas para uma conversa: Lilian Christofoletti, da Folha de S.Paulo, Paulo Baraldi, de O Estado de S. Paulo, Tatiana Farah, do jornal O Globo, e André Guilherme, da rádio Jovem Pan. Bruno quer uma conversa reservada e propõe que ela seja feita a cerca de um quarteirão dali, na Bovinu's, uma churrascaria. Um dos jornalistas argumenta que ali "só tem policial". O grupo acaba conversando perto da Faculdade Rio Branco, que não se avista da frente da PF, mas é também ali por perto. Ficam na rua mesmo. O delegado não sabe, mas sua conversa está sendo gravada.

Bruno diz que quer passar para os jornalistas cópia das fotos do dinheiro apreendido com os petistas, que estavam sendo procuradas há muito, por muita gente. Leva um CD com as imagens, 23 fotos; e três CDs em branco para que eles copiem as imagens de modo a que cada um tenha uma cópia. Fala que eles devem dizer "alguém roubou e deu para vocês", para explicar o aparecimento das fotos. Diz que ele próprio vai dizer coisa parecida a seus chefes na PF, que os jornalistas é que o roubaram: "Doutor, me furtaram. Sabe como é que é, não dá para confiar em repórter". Recomenda que as fotos sejam editadas em computador com o programa Photoshop para tirar detalhes, como o nome da empresa na qual as células foram fotografadas, a fim de despistar a origem do material.

Algumas pessoas têm a fita de áudio com a conversa do delegado Bruno com os quatro repórteres. Mais pessoas ainda a ouviram. Uma delas é o repórter Luiz Carlos Azenha, que tornou públicos vários de seus trechos no seu site pessoal na internet "Vi o Mundo, o que nunca você pode ver na tevê". (http://viomundo.globo.com/). Azenha, que é repórter da TV Globo, não quis dar entrevista a CartaCapital. Pediu que se procurasse a emissora. Para o que mais interessa ao desenrolar da nossa história, dos trechos da fita, deve-se destacar a preocupação de Bruno em fazer com que as fotos chegassem no dia ao Jornal Nacional. "Tem alguém da Globo aí?", pergunta ele. Um dos quatro responde: "Tem o Bocardi". "Não é o Tralli? O Tralli está muito visado", Bruno diz, referindo-se a César Tralli e ao incidente, conhecido de muitos, de esse repórter da TV Globo ter podido acompanhar, praticamente disfarçado de Polícia Federal, a prisão de Flávio Maluf, filho de Paulo Maluf.

Mas a preocupação principal de Bruno é a que ele reitera nesse trecho: "Tem de sair hoje à noite na tevê. Tem de sair no Jornal Nacional".

3. As fotos são divulgadas, como veremos no capítulo seguinte, com imenso destaque, no dia 29, vésperas das eleições, repita-se, no JN. Mas não apenas no JN. Veja-se a Folha de S.Paulo, por exemplo. Lá também a divulgação foi, pelo menos na opinião de alguns, espetacular: "Que primeira página mais linda, a de 30/9. É por isso que eu não consigo me separar da Folha", escreveu o leitor Euclídes Araujo, no dia seguinte. "A glosa, a irreverência, a fina ironia falaram mais alto, mostrando aquela montanha de dinheiro em cima e, embaixo, Lula, sendo abraçado por uma mão morena e cobrindo o rosto, como se fosse um meliante conduzido ao distrito, tentando esconder a identidade. O que eles querem, o Pravda ou o Granma? Valeu, Folha!"

A Folha publicou, com grande destaque na primeira página, a foto na qual o dinheiro está empilhado de forma que as notas apareçam com a frente voltada para o leitor e que foi feita de baixo para cima, que é a que mais dá a impressão da "montanha de dinheiro" citada pelo admirador do jornal. E não divulgou que as fotos lhe tinham sido passadas por um policial visivelmente empenhado em fazer com que elas tivessem um uso político claro, de interferir no pleito de 1º de outubro.

A Folha também tinha a fita de áudio, que foi levada por sua repórter. A editora-executiva do jornal, Eleonora de Lucena, não quis responder por que omitiu as informações dessa fita, a nosso ver tão relevantes. Alguns dos quatro repórteres que receberam as fotos do delegado Bruno, ouvidos para esta matéria, disseram em defesa da tese de que o áudio não deveria ser divulgado, com o argumento de que o jornalista deve preservar o sigilo da fonte, com o que concordamos. Mas perguntamos a Eleonora: por que ela não deu a informação de que se tratava de uma intervenção política no processo eleitoral, publicando os trechos da fita de áudio, que tornam isso explícito, mas sem citar o nome da fonte?

O mais curioso, para dizer o mínimo, é que a Folha publica, junto com as fotos do dinheiro, uma matéria ("Imagens foram passadas em sigilo à imprensa") na qual conta o que o delegado Bruno disse depois, na tarde do mesmo dia 29, ao conjunto de jornalistas, na frente da PF. No texto, assinado pela repórter do jornal que recebeu as fotos de Bruno pela manhã, se diz: "O delegado Bruno disse, ontem, em coletiva à imprensa, que o CD com as fotos havia sido furtado de sua sala, na PF – e que ele estava sendo injustamente acusado de ter repassado o material aos jornalistas". Pergunta-se: qual é o sentido de publicar uma informação que a jornalista sabia que é evidentemente mentirosa e, no caso, ainda ajudava o policial a tentar enganar a própria imprensa?

O Estado de S. Paulo do dia 30 publica a mesma foto, das notas em posição de sentido. E com um texto, assinado por Fausto Macedo e Paulo Baraldi, ainda mais incrível, também para dizer o mínimo. O texto é praticamente uma diatribe contra o PT e em defesa de José Serra. Diz que a publicação das fotos é a abertura "de um segredo que o governo Lula mantinha a sete chaves". Diz que o dinheiro veio de quem "pretendia jogar Serra na lama dos sanguessugas". É também uma espécie de defesa do delegado Bruno, em favor do qual são ditas algumas mentiras. O texto diz que as fotos foram feitas por "um policial da Delegacia de Crimes Financeiros (Delefin)" na sexta-feira dia 15 de setembro. E que o delegado Bruno comandou uma perícia nas notas, a serviço da Polícia Federal, na sala de conferências da Protege S.A. Proteção e Transporte de Valores, em São Paulo. De fato, como se saberia no mesmo dia 30 em que o texto de Macedo e Baraldi sai publicado, as fotos foram feitas pelo próprio delegado Bruno, depois de enganar os peritos que analisavam as notas, dizendo-se autorizado pelo comando da PF. Pela infração, o delegado está sendo investigado por seus pares.

4. Tanto o Estado como a Folha dividem a primeira página do dia 30 entre a notícia das fotos do dinheiro e uma outra informação espetacular: a da queda do Boeing de passageiros da Gol com 154 pessoas, depois de um choque com o Legacy da Embraer, o jatinho executivo a serviço de empresários americanos. No dia 29, no Jornal Nacional, da Globo, no entanto, não há espaço para mais nada: a tragédia do avião da Gol não entra; o noticiário eleitoral, com destaque para as fotos do dinheiro dos petistas, é praticamente o único assunto.

É uma omissão incrível. O Boeing partiu de Manaus às 15h35, hora de Brasília. Deveria ter chegado em Brasília às 18h12. Quando o JN começou, a notícia do desastre já corria mundo. No site Terra, por exemplo, às 20h10 uma extensa matéria já noticiava que o avião da Gol havia desaparecido nas imediações de São Félix do Araguaia, na floresta amazônica; e a causa apontada era o choque com o avião da Embraer.

Qual a razão da omissão do JN? A emissora levou um furo, como se diz no jargão jornalístico, ou decidiu concentrar seus esforços no que lhe pareceu mais importante?

Qualquer que seja o motivo, o certo é que a questão da divulgação das fotos mobilizou a cúpula do jornalismo da tevê dos Marinho. Como vimos, Bruno fora informado pelos jornalistas que Bocardi, da TV Globo, estava entre os jornalistas diante da PF no dia 29. Bocardi é Rodrigo Bocardi, repórter da TV Globo, que atendeu CartaCapital com muita má vontade. Disse que a matéria acabara sendo apresentada por César Tralli e não por ele; e não quis dar mais informações. De alguma forma, no entanto, tanto a fita de áudio com a conversa de Bruno com os jornalistas quanto o CD com as imagens do dinheiro foram passados à chefia de jornalismo do JN em São Paulo e de lá foram levadas a Ali Kamel, no Rio.

Kamel é uma espécie de guardião da doutrina da fé, o Ratzinger da Globo, como dizem ironicamente pessoas da organização dos Marinho, que criticam o excesso de zelo deste que é um editor em última instância de todo o noticiário político da emissora carioca. A crítica relembra o papel do cardeal Joseph Ratzinger, atualmente papa Bento XVI, no papado de João Paulo II.

Compreende-se por que a decisão sobre o que fazer com o áudio e com as fotos tivesse de ser tomada pelas mais altas autoridades da emissora. Se divulgasse o conteúdo exato das duas informações, a Globo estaria mostrando que o delegado queria usar a emissora para os claros fins políticos que manifestava e que a emissora tinha feito a sua parte nesse projeto. A saída de Kamel – aparentemente, segundo relato de terceiros, ouvidos por CartaCapital, já que ele mesmo não quis se manifestar – foi a de omitir qualquer referência à existência do áudio: "Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos, não a temos", teria dito Kamel. A informação complicava a Globo. A informação sumiu.

5. O comportamento da Globo na cobertura do caso do dossiê provocou reclamações de vários funcionários da emissora, desde o início. Já na segunda-feira após o estouro do caso, dia 18 de setembro, houve conversas de alguns deles com Luiz Cláudio Latgé, diretor de jornalismo da TV Globo em São Paulo. A reclamação básica àquela altura era a de que não havia um tratamento igual para as duas pontas da história. A ponta que envolvia "a podridão dessa banda sindical petista", como dizia um desses funcionários revoltados, referindo-se aos chefes da operação do dossiê no comitê eleitoral do presidente Lula, era amplamente noticiada. Já a outra, que envolvia articulações de Abel Pereira, empresário de Piracicaba, com interesses no Ministério da Saúde na época dos governos tucanos, era praticamente omitida.

Esse viés anti-PT e pró-tucano, que não foi apenas da Globo, mas dos principais jornais e revistas da imprensa, fez com que ficasse quase omitida do noticiário maior a informação de que a história do dossiê petista começa com a investigação, pelo grupo de inteligência comandado por Jorge Lorenzetti, da ida de Abel Pereira a Cuiabá, supostamente para tentar comprar dos Vedoin um outro dossiê, de informações que poderiam incriminar os tucanos José Serra e Barjas Negri, ministros da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso. No seu depoimento à Polícia Federal, após a prisão de Valdebran e Gedimar, Lorenzetti disse que, tanto Gedimar como Expedito Veloso e Osvaldo Bargas, outros dois petistas depois acusados de envolvimento no caso, foram enviados a Cuiabá numa operação de contra-espionagem.

Há provas desse trabalho. Nos dias 23 e 24 de agosto, Abel Pereira esteve em Cuiabá e foi espionado por um fotógrafo, contratado por Gedimar e Veloso, que flagrou o empresário na saída do Hotel Taiamã. Segundo Lorenzetti disse à PF, Abel tentava comprar, por 10 milhões de reais, as informações de que os Vedoin tinham contra os tucanos. A Polícia Federal tinha também três telefonemas de Abel para um parente dos Vedoin no dia 14 de setembro, data em que parece ter sido feito o acerto entre os petistas e os empresários da venda das ambulâncias superfaturadas conhecida como "operação sanguessuga". Os telefonemas de Abel são outra indicação de que dossiês – e não apenas um – estavam sendo disputados. O dia 14 de setembro é também a data em que Bargas e Veloso acompanharam a entrevista da IstoÉ com os Vedoin e que resultou na reportagem de capa da revista naquela semana. A matéria mostrava o que é de conhecimento de todos os jornalistas que pesquisaram minimamente o assunto: que 70% das 891 ambulâncias comercializadas pela Planam, a empresa dos Vedoin, entre 2000 e 2004, tiveram suas verbas liberadas nas gestões de Serra e Negri.

É absolutamente razoável supor que Serra e Negri sejam pessoas acima de qualquer suspeita. É também razoável supor que as negociações de Abel com os Vedoin sejam lícitas, mesmo porque não é crime comprar informações. É também justo ficar indignado com o baixo nível da política que se fundamenta no esforço de provar que o candidato adversário ou é ladrão ou está ligado a ladrões. Mas pergunta-se: por que achar que os petistas são os piores de todos os políticos, a priori, sem investigar o outro lado? Essa era a pergunta que faziam à direção da Globo alguns dos seus funcionários de São Paulo.

6. Outra omissão relevante na cobertura, que mostra o partido que a imprensa conservadora assumiu no caso, é o pouco destaque dado ao comportamento do procurador da República Mário Lúcio Avelar, que comandou o desencadeamento da operação que levou à denúncia da compra do dossiê pelos petistas. Avelar é o mesmo procurador cujo trabalho resultou na divulgação, no começo de 2002, das fotos de dinheiro apreendido na firma Lunus, do marido da atual candidata ao governo do Maranhão, Roseana Sarney. Na época, ela era pretendente ao cargo de candidata da coligação PSDB-PFL para disputar a Presidência da República contra Lula. E as pesquisas de opinião pública mostravam àquela altura uma ascensão espetacular de seu nome, como um dos favoritos a desempenhar o papel do anti-Lula. As preferências pelo nome dela nas pesquisas de opinião pública aproximaram-se dos índices que Lula tinha na ocasião e superaram as marcas do outro, que, afinal, acabou sendo o candidato da coligação conservadora, José Serra. Com a divulgação das imagens do dinheiro apreendido, também numa operação da Polícia Federal, como agora, também com o vazamento das fotos para a imprensa e, especialmente, para o Jornal Nacional, Roseana despencou nas pesquisas e acabou ficando fora do pleito. Mais tarde, ao fim das investigações, o dinheiro foi devolvido à Lunus e se concluiu que nada tinha ocorrido de ilegal.

Avelar era, na época, procurador da República em Tocantins. De lá foi afastado no fim de 2002 pelo então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, por ter indiciado políticos com mandato, sem ter competência legal para fazê-lo (só o procurador-geral pode decidir por esse tipo de ação). Em Mato Grosso, para onde seguiu depois, Avelar foi o comandante jurídico da Operação Curupira, conduzida pela Polícia Federal contra funcionários do Ibama e madeireiros, na qual foram presas 93 pessoas, entre elas Antônio Carlos Hummel, o diretor de florestas do Ibama. Hummel foi para Cuiabá algemado; pegou quatro noites de cadeia; foi liberado; e, depois, completamente inocentado. Avelar acabou confessando ao delegado que chefiou a investigação, depois de acompanhar o depoimento oficial de Hummel, que nem sequer devia tê-lo indiciado.

No caso do atual dossiê, logo no início da denúncia contra os petistas, Avelar insinuou que o dinheiro para pagamento aos Vedoin era público. Disse, em tom de ironia: "Veja bem, estamos falando de um partido político (o PT) que tem o comando do País. Não tem mais nada... Só o País. Pode sair de onde o dinheiro?" No dia 19 de setembro, Avelar pediu a prisão preventiva de Freud Godoy, uma espécie de segurança pessoal do presidente Lula, que de início passou vários dias em grande destaque nos jornais como o homem que teria comandado a operação de compra do dossiê. O juiz Marcos Alves Tavares, da Segunda Vara Federal, rejeitou o pedido de prisão feito por Avelar, e, além da argumentação contra o pedido, escreveu: é, "no mínimo, contraproducente que um pedido de prisão temporária seja divulgado na imprensa antes de sua análise pelo juízo". Desde a manhã circulava a informação da prisão de Freud pela internet.

Avelar voltou à carga e pediu a prisão preventiva de Bargas, Lorenzetti, Freud, Veloso, Gedimar e Valdebran, no dia 25 de setembro, às 21 horas, três horas antes, portanto, do horário a partir do qual não são mais permitidas as prisões de qualquer cidadão, a não ser em caso de flagrante delito, em virtude da realização de eleições. A juíza Adverci de Abreu autorizou as prisões e enviou a ordem para a PF, onde o mandado chegou à 1h30 da madrugada; já, portanto, fora do prazo. Alguns jornais, na linha de ataque ao PT, noticiaram a história com manchetes do tipo "salvos pela Justiça Eleitoral". Avelar comentou, reclamando de não poder continuar as investigações: "Houve um pedido de prisão. A juíza concedeu, mas não pôde prender por causa do período eleitoral. Tem uma investigação. Ela vai ter de parar por causa do processo eleitoral?"

7. A investigação do procedimento de Avelar é importante por um motivo que o jornalista maranhense Walter Rodrigues, que ajudou CartaCapital na preparação dessa matéria, chama de "o modus operandi" do tipo de infração no qual o promotor pode estar se especializando. Ela pode ser definida assim:

Vive-se um período eleitoral. Procuradores e policiais estão ativos, investigando diversos tipos de delito. E começam a misturar os trabalhos que estão fazendo com suas preocupações partidárias. E aí se desviam do mandado que receberam, passando a investigar pessoas e entidades adversárias.

Isso é uma grave violação de princípios da Justiça. Como se sabe, na Idade Média, não havia um mandado para investigação: não se investigavam delitos; investigavam-se pessoas. Para exemplificar com o caso em tela: o mandado para a investigação de Cuiabá não era contra os Vedoin, pessoalmente. Era uma investigação de superfaturamento de ambulâncias e de suborno de parlamentares. No meio da investigação surgem os telefonemas dos arapongas do PT.

Mas do que os petistas do caso do dossiê são acusados? De comprar informações? Não, porque este não é um crime tipificado em lei. Porém, como não é a um crime, mas ao PT que se persegue, é preciso achar outro crime que os petistas possam ter cometido. Depois de ouvir o presidente do PT, Ricardo Berzoini, dizer que comprar dossiê não é crime, o jornal O Globo, dessa quinta, saiu exatamente à cata desses crimes. Encontrou advogados que lhe permitiram dizer: "Há duas hipóteses de o episódio vir a configurar crime. A primeira, se for comprovada a origem ilícita do dinheiro apreendido com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha. Nesse caso, os envolvidos poderiam ser processados por crime de ocultação de valor proveniente de ilícito (...) A segunda possibilidade é a de o dossiê conter falsas provas, configurando crime eleitoral de obtenção de documento material ou ideologicamente falso, para fins eleitorais".
Os petistas já foram presos, agora trata-se de achar os crimes que possam ter cometido.

*Colaborou Antônio Carlos Queiroz

Tuesday, October 10, 2006

um pouco mais sobre o debate

“Sou presidente, não policial. A polícia tem o seu tempo para investigar e está investigando. O governador talvez tenha saudades do tempo que a polícia prendia suspeitos e, em meia hora, descobria os culpados na marra” - Lula, durante o debate na Band..

por essas e outras voto nele.. :P

Monday, October 09, 2006

DEBATE: lula nocauteia alckmin

depois do debate de ontem, acho que não há mais muito a discutir sobre essas eleições..

a questão da bolívia foi o ponto crucial..

"é preciso conversar ponderadamente com o Evo Morales, e entender que o povo boliviano é sofrido, e tudo que ele tem é o petroleo. É legitimo defender a soberania deles, sim. E o Brasil deve incentivar o crescimento da América Latina como um todo. É um erro pensar em passar por cima da bolivia por causa disso, porque estaria fazendo a mesma coisa que o Bush fez com o Iraque. Você Alckmin, pensa como o Bush" - foi mais ou menos isso o que o Lula disse..

e tudo o que o alckmin respondeu foi que lula esta defendendo uma política externa fraca...

depois dai, vcs podem escolher se querem um representante que pense que nem o bush, e ache que para alcançar sua soberania o brasil deve sair atropelando os países menores.. ou se preferem alguem que opta pela conversa e pelo apoio entre os paises em desenvolvimento.. e que considera importante o país crescer sim, mas com dignidade e respeitando a sociedade como um todo, não apenas subsidiando o crescimento da burguesia..

Tuesday, October 03, 2006

um pouco de política...

quem me conhece sabe que nunca me envolvi com política partidária... sempre acreditei nos princípios da anarquia, e na maioria das vezes anulei meu voto por não concordar com o sistema e nem com a obrigatoriedade de votar....

Mas hoje, devo admitir que mudei um pouco minha forma de pensar... desde que trabalho envolvida com o PT (prefeitura de SP e agora Fundação Perseu Abramo), passei a enxergar a política de dentro, ter contato com certas coisas que me fizeram enxergar o sistema todo com uma visão ainda mais niilista... porque percebi que a anarquia é ainda mais utópico do que eu conseguia vislumbrar...

Nessa eleição, pela primeira vez, me envolvi a fundo.. pesquisei candidatos, refleti muito sobre meu voto, discuti por horas com amigos, e, principalmente, me irritei demais... Sinceramente, uma nação que se recusa a votar em Lula por causa de denúncias de corrupção e elege Maluf, celso russomano e clodovil como deputados mais votados é uma nação burra!!! sem falar no collor, valdemar costa neto, e etc...

Estou realmente indignada em assistir a tudo que está acontecendo e me sentir extremamente impotente...

Nunca vou condenar quem vota nulo.. já tive meus motivos para fazer isso e sempre vou compreender quem continuar pensando assim... Mas realmente acho que o momento pede uma participação diferente... Qualquer ação que tenhamos nesse momento político que estamos vivendo terá uma séria relevência histórica..

ok, existem erros e milhões de coisas que ainda precisam ser melhoradas - e muito! Mas é fato, o Brasil pela primeira vez tem um governo de esquerda.. Capenga, talvez, mas ainda é o mais à esquerda que já tivemos.. A corrupção, para mim, não passa de uma grande bobagem. Simplesmente porque tenho certeza que não é a partir da escolha do presidente que vamos acabar com a corrupção. Talvez a partir de uma séria mudança no sistema e algumas reformas políticas.. Mesmo assim, tenho minhas dúvidas..

O que estou tentando dizer é que a corrupção não pode ser o norteador para a decisão do voto, uma vez que em TODOS os governos existentes até hoje no país existem denúncias de corrupção.. Portanto, há que se escolher pensando nas propostas, nas posturas e no que já foi feito..

Nesse sentido, não tenho a menor incerteza de dizer que o governo lula é, SIM, o melhor governo que já houve no Brasil... Para mim, já poderia ser considerado um ótimo governo pelo simples fato de ter sido o único a criar um programa de governo especialmente dedicado à comunidade GLBT, com reivindicações reais do movimento implantadas nele. (Aliás, uma qualidade dos governos do PT que deve ser ressaltada é que estão sempre dispostos a conversar com os movimentos sociais, ouvir suas reivindicações, em vez de simplesmente atribuir as demandas que o partido julga necessárias).

Mas pra quem gosta de números, abaixo está uma lista comparativa entre os 4 anos de mandato de Lula e os 8 anos de FHC... Vale a pena dar uma lida e refletir um pouco, principalmente se vc ainda pensa em votar no Alckmin.. aff..

Beijos.. e bons votos!


- A primeira linha de cada tópico é Lula, a segunda FHC

Fontes: IBGE, IBGE/Pnad (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar - desde 1994); ANEEL; Bovespa; CNI; CIESP; Ministérios Federais e Agências Reg.; SUS; CES/FGV; jornais FSP, O Globo e O Estado; Carta O Berro e Grupo Nacional Cidadania e Verdade


LULA (1° mandato)
FHC (1° e 2°)


Número de policiais federais
11 mil
5 mil

Operações da PF contra a corrupção, crime organizado, lavagem de dinheiro, etc...
183
20

Prisões efetuadas
2.971
54

Criação de empregos
6 milhões(4 milhões com carteira assinada)
700 mil

Média anual de empregos gerados
14 milhão
87,5 mil

Média mensal de empregos gerados
95 mil
87 mil (leia -se - 7,2 mil/mês)

Taxa de desemprego nas regiões metropolitanas:
8,3%
11,7%

Desemprego em SP
16,9%
19,0%

Exportações (em dólares):
118,3 bilhões
60,4 bilhões

Balança comercial (em dólares)
103,3 bilhões
- 8,4 bilhões

Transações correntes (em dólares):
30,1 bilhões
- 186,2 bilhões

Risco-país
204
2.400

Inflação
2,8%
12,53%

Dívida com o FMI (em dólares)
dívida paga
14,7 bilhões

Dívida com o Clube de Paris (em dólares)
dívida paga
5 bilhões

Dívida pública
34,2%
35,3%

Dívida externa
2,41%
12,45%

Investimento em desenvolvimento (em reais)
47,1 bilhões
38,2 bilhões

Empréstimo para habitação (em reais)
4,5 bilhões
1,7 bilhões

PIB
2,6% ao ano (até 2005)
2,3% ao ano

Crescimento industrial
3,77% - O lucro líquido das grandes empresas com ações em Bolsa quase triplicou nos três anos e meio de governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao período da segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso, de 1999 a 2002. Folha de S. Paulo (20/08/2006)
1,94%

Produção de bens duráveis
11%
2,4%

Aumento na Produção de veículos
2,4%
1,8%

Crédito para a agricultura familiar
6,1%
2,4%

Crescimento real do salário mínimo
25,3% - Ganho real de 25,7% em três anos
20,6%

Valor do salário mínimo em dólares
152
55

Poder de compra do salário mínimo em relação à cesta básica
2,2 cestas básicas
1,3 cesta básica

Aumento do custo da cesta básica
15,6%
81,6%

Índice de Desigualdade social
0,559
0,573

Participação dos mais pobres na renda
15,2%
14,4%

Número de pobres
33,57%
34,34%

Número de miseráveis
25,08%
26,23%

Transferência de renda (em reais)
7,1 bilhões
2,3 bilhões

Média por família
70 reais
25 reais

Atendidos pelo programa Saúde da Família
43,4%
30,4%

Atendidos pelo programa Brasil Sorridente (atendimento odontológico)
33,7%
17,5%

Mortalidade infantil indígena (por 1000 habitantes)
21,6
55,7

Número de turistas que vêm ao Brasil
4,6 milhões
3,8 milhões

Pró-jovem - estudo subsidiado
93 mil (18 a 24 anos)
* 100 reais por mês de subsídio a cada estudante

Bolsa Família
11,1 milhões de famílias
* Educação e subsídio alimentar

Incremento no acesso a água no semi-árido nordestino
762 mil pessoas e 152 mil cisternas
zero

Distribuição de leite no semi-árido (sistema pequeno produtor)
3,3 milhões de brasileiros
zero

Áreas ambientais preservadas
incremento de 19,6 milhões de hectares (2003 a 2006)
Do ano de 1500 até 2002: 40 milhões de hectares

Apoio à agricultura familiar
7,5 bilhões (safra 2005/2006) *O governo Lula investirá 10 bilhões na safra 2006/2007
2,5 bilhões (último ano de governo)

Compra de terras para Reforma Agrária
2,7 bilhões (2003 a 2005)
1,1 bilhão (1999 a 2002)

Investimento do BNDES em micro e pequenas empresas
14,99 bilhões
8,3 bilhões

Investimentos em alimentação escolar
1 bilhão
848 milhões

Investimento anual em saúde básica
1,5 bilhão
155 milhões

Equipes do Programa Saúde da Família
21.609
16.698

População atendida pelo Prog. Saúde da Família
70 milhões
55 milhões

Porcentagem da população atendida pelo Programa Saúde da Família
39,7%
31,9%

Pacientes com HIV positivo atendidos pela rede pública de saúde
151 mil
119 mil

Juros
16%
25%

Bolsa de Valores BOVESPA
35,2 mil pontos
11,2 mil pontos

Dívida externa
165 BILHÕES
210 BILHÕES

Desemprego no país
9,6%
12,2%

Dívida PIB
51%
57,5%

Eletrificação Rural
3 milhões de pessoas
2,7 mil pessoas

Livros gratuitos para ensino médio
7 milhões
zero

Geração de Energia Elétrica
1.567 empreendimentos em operação, gerando 95.744.495 kW de potência.
Está prevista para os próximos anos uma adição de 26.967.987 kW na
capacidade de geração do País, proveniente dos 65 empreendimentos
atualmente em construção e mais 516 outorgadas.
APAGÃO

Recebi por e-mail, repassado de André Lemos - Centro Internacional de Estudos e Pesquisa em Cibercultura - CIBERPESQUISA - Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas - Faculdade de Comunicação/UFBA
http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos
alemos@ufba.br alemos@ufba.br